Estudo da USP revela que médiuns possuem alterações genéticas

A médium Eva Carriére com estrutura ectoplasmática (materialização) na cabeça. Fotografia tirada em 1912 pelo pesquisador parapsicológico alemão Albert Von Schrenck-Notzing  (1862 – 1929).


Vários Filmes e séries abordam histórias de pessoas que conseguem se comunicar com espíritos. Nessas obras, os chamados médiuns ajudam esses espíritos a resolver pendencias e partir para o paraíso.

Desde a Grécia antiga, é possível observar histórias sobre pessoas que tinham algum tipo de contato com o mundo espiritual. Nos templos da nação conhecida como Grécia, as “pitonisas” eram as encarregadas de proferir oráculos evocando os deuses. No Brasil, os “pajés” eram - e ainda são - os membros da tribo responsáveis pelo contato entre o mundo físico e o espiritual.

Diversas expressões religiosas acreditam nesse dom de falar com os espíritos e têm, como parte dessa prática, a incorporação,  doutrinação ou a consulta a entidades  espirituais. É o caso do Espiritismo e Umbanda, por exemplo.

No entanto, isso é apenas uma história de ficção?

Pensando nisso, um estudo, com o intuito de pesquisar se existem alterações genéticas nos indivíduos declarados médiuns, foi realizado pela Universidade de São Paulo em parceria com Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O Estudo

O estudo aconteceu entre abril de 2020 e abril de 2021. Foram analisadas 119 pessoas, sendo 54 autodeclarados médiuns, 53 sem mediunidade -incluindo parentes de primeiro grau dos médiuns - e 12 outros médiuns, que serviram como validação do estudo.

Os participantes médiuns precisavam atender a alguns requisitos para serem escolhidos, entre eles ter, no mínimo,  10 anos de experiência, realizar trabalhos mediúnicos ao menos uma vez por semana e não cobrarem pelas consultas nem receberem valores materiais pelo atendimento.

Para a seleção desses médiuns, foi criada uma rede de capacitação que buscou, em  todo o Brasil, aqueles que tivessem importante expressão entre os grupos religiosos que acreditam em tal dom, incluindo o espiritismo e umbanda.

Essas pessoas tiveram que apresentar dados como etnia, escolaridade, idade e amostras de salivas. A habilidade delas foi testada por meio de análise da qualidade de vida, além da extração e do e sequenciamento genético.

Alexander Moreira-Almeida, coautor do estudo, deu entrevista ao G1 e explicou como a pesquisa foi conduzida. Segundo ele, foi feito um estudo caso-controle, no qual são analisados casos de pessoas que possuem uma variável de interesse - como a experiencia mediúnica - e comparados  com  indivíduos semelhantes (parentes), mas que não apresentam o  dom de mediunidade. A ideia é observar se esses médiuns possuem alguma variante genética que possa explicar esse dom.

De cada voluntário foi analisado o exoma - região do DNA que determina a produção de proteínas, com impacto sobre a formação do corpo de cada pessoa.

O que o questionário inicial observou?

Cerca de 92,7% dos participantes reconheceram que espíritos os usam para dar recados; 70,9% disseram psicografar; 52,7% disseram ter visto espíritos; 50,9% relataram ter entrado em incorporação; 47,3% mencionaram ter tido experiências fora do corpo; e outros 34% disseram possuir habilidades de cura.

O que foi encontrado no estudo?

Foram identificadas 1.574 mutações de 834 genes nos 54 médiuns,  em comparação  com os 53 não médiuns, que eram seus parentes de primeiro grau. Esses dados foram então confrontados com os de 12 médiuns independente.  Em 11 dos 12 indivíduos, foram encontrados os mesmos genes mutáveis do grupo principal.

Para obter maior precisão, o estudo ainda avaliou dois médiuns gêmeos idênticos e um terceiro não médium.  Neste caso, foram encontradas 434 mutações em 230 genes nos médiuns, enquanto o irmão deles não apresentou essas mutações.

Onde estão as mutações encontradas?

Com a ajuda de um software,  foi possível processar e identificar que essas mutações estão presentes no sistema imune e inflamatório, em tecidos epiteliais e na glândula pineal.

A glândula pineal se encontra no centro do cérebro. Vários grupos religiosos afirmam que, ao desenvolvê-la, seria possível “abrir o olhar’ para a espiritualidade. No  organismo humano,  essa glândula é responsável por diversas funções, entre elas a regulação do sono.

O estudo prova que mediunidade existe?

Não. O estudo demonstra que indivíduos que se declaram médiuns possuem alterações genéticas que podem afetar a forma como se relacionam com o mundo ou percebem estímulos ao redor.

De maneira geral, para quem acredita, esses achados podem reforçar a ideia de que os médiuns são pessoas com dons especiais, que já nasceram com essas características devido a mutações genéticas.  



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